A Atriz
A Atriz encenava o mesmo espetáculo havia 5 anos. Em cena, ela dava vida à uma mulher de 35 anos, classe média, envolta em um drama. Carregado de perda, dor e amadurecimento. Neste contexto, a personagem era sacudida pela traição do marido, refletia sobre seus ressentimentos e expectativas.
O texto era denso! Afinal, transitava por um embate, desta personagem com seu parceiro de cena, num diálogo carregado de humilhação, indignação e separação. Porém A Atriz, ao final daquela apresentação, notou claramente seu desinteresse em continuar representando.
Percebeu que para ela, não havia mais emoção ali. Naquele breve instante entre o fechamento das cortinas e os aplausos. A Atriz começou a pensar: sobre à peça. Foi mais do que o fim de um espetáculo. Foi o fim de uma temporada (para ela).
O por que disto?
Porque para estar em cena era preciso acreditar naquele texto, era preciso emprestar àquela personagem seu corpo, seus sentimentos e sua vida. A Atriz deixou o palco, despiu-se da personagem e despediu-se da mesma sem alardes. Nunca mais voltou lá!
Ela foi viver outras histórias. Para ela, o final foi ali, naquele momento de tomada de consciência do seu próprio desejo. Ela compreendeu o valor de tantas outras escolhas.
Há quem diga que a Atriz hoje “atua” como professora de artes em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. (Disto eu não tenho certeza).
Recentemente, passei em frente ao teatro e lá continua o mesmo espetáculo em cartaz, representando “aquela personagem” está uma outra atriz. O restante do elenco, permanece o mesmo ,e interpreta há 8 anos o mesmo drama.
Feliz Ano novo! Reflita sobre seus desejos.