Odef – O ogro mau cheiroso
Um ogro que morava no Pântano, gostava de se distrair de vez em quando, se disfarçando de Príncipe. E, assim ia aos Bailes do Reino.O nome dele era Odef . Ele era “amarelo”, sem cor e sem viço. O ogro mau cheiroso conquistava donzelas (para poder despreza-las), pois sua natureza de ogro fazia com que evitasse, a todo o tempo, situações que envolvessem afetos. Odef tomava a direção de um mundo estéril.
Em suma, seu projeto de vida era marcado pela recusa dos afetos. Mas, para manter essa situação, ele precisava do prazer em enganar. Dizendo-se príncipe riquíssimo, feliz e cheio de amor para entregar a elas… No entanto, bastava notar que a mentira “colará” voltava Odef para seu pântano (fedido), suas sujeiras, suas vergonhas e suas mentiras. Fixado ao cheiro do pântano, chafurdado na lama, Odef se mantinha protegido. O jogo de enganar ele sabia jogar. Deu certo uma dúzia de vezes. Todas as donzelas do povoado se acotovelavam para dançar com ele. Se apaixonavam, e seu prazer era sumir na manhã seguinte. Satisfeito por enganar mais uma.
Certa vez, Odef encontrou no baile uma linda donzela. Seu nome era Malva. Ela era diferente, bonita, vivaz e irradiava uma luz violeta de um brilho intenso e transformador.
Odef sentiu por ela uma mistura de ódio e admiração. Sentia raiva, por uma pessoa ser tão pura e bela. Percebeu a simplicidade daquela moça, notará que ela não era uma nobre. Queria envergonha-la.
No entanto, Malva era uma donzela de toque especial,como um dom: ela podia ver o interior das pessoas. E, ao dançar com Odef pode notar sua parcialidade, sua incapacidade para amar. E, mais ela sentia, vindo dele, um mau cheiro Insuportável. Quanto mais eles dançavam, mais ela sentia, e todos no baile passaram a sentir tal mau cheiro.
Ela parou a dança e disse a ele: – Que cheiro é esse?
Ele respondeu bravo: – Não sou eu, é o cheiro do pântano.
Ela indaga: – Ora, se o cheiro é do pântano, e o único ogro que mora lá é você, então, de onde vem o cheiro?
Odef, que não se furta ao registro, sente o baque.
Nessa hora, o baile para. Vem à tona a vulnerabilidade de Odef. Nessa busca circular, do pântano ao pântano, que Odef paradoxalmente (não) se encontra: fugindo da própria sombra.
Desvela-se, ao cheiro do pântano, uma multiplicidade de verdades e de sentidos (já ali contidos).